sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

NONAGÉSIMAS-QUINTAS

Existem várias pequenas atitudes que mostram a educação que se tem ou não se tem. Eu até sou um bocado avesso à chamada etiqueta, mas reconheço que há pequenas coisas que têm o condão de me irritar. Exemplo: não me darem o troco de um pagamento na mão. No meu bairro há uma leitaria onde só entro quando as demais estão todas fechadas. E porquê? Além da parca higiene que transpira de tudo o que existe dentro da loja, a começar pelos donos, o costume é justamente atirar a infinita quantidade de moedas de troco de qualquer nota com estrondo no balcão. A mão fica estendida, ao lado das moedas já espalhadas à espera que alguém as apanhe.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

NONAGÉSIMAS-QUARTAS

Feliz Natal. Para todos. Eu, ermo, o celebro.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

NONAGÉSIMAS-TERCEIRAS

PORTAS

Mesmo com a fachada florida,
encerro a porta e roubo-lhe o batente
para que ninguém me toque.
Fecho-me na cave de mim e aguardo
a trovoada em que me desabosem mais pétalas do que quer que seja
fico assim confinada
a dedilhar-me de mansinho arrumando a gaveta
que em mim trago.

Fátima Pinto Ferreira
Cão Com Pulgas

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

NONAGÉSIMAS-SEGUNDAS

Há um tipo de pessoas que me irrita solenemente. São aquelas pessoas que falam compulsivamente, a uma velocidade superior à da luz. Parece que o mundo vai acabar no segundo exacto em que elas se calarem e em que a torrente cessar. Como se falar fosse a alquimia para manter a vida acesa. Não deixam ninguém falar. Logo que que o interlocutor balbucia duas palavras a mais, ei-las a saltitar de assunto à mesmíssima velocidade com que falaram do anterior. Quando essas pessoas se vão embora um descanso desce, prazenteiramente, sobre a minha cabeça.

domingo, 21 de dezembro de 2008

NONAGÉSIMAS-PRIMEIRAS

É do Porto e usou a Tvtel o vistante 1.000 do Palavras Ermas. Mil visitas. Para ler estas palavras com que aqui vou registando o labirinto por onde passeio. Eu só agradeço este desrespeito pela ermitude, esta companhia que me fazem, mesmo quando estou na ilha apenas olhando em redor para a água que me cerca, ou para cima, para a que me molha.

sábado, 20 de dezembro de 2008

NONAGÉSIMAS


LADAÍNHA DOS PÓSTUMOS NATAIS

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
e que não viva ninguém meu conhecido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito.

David Mourão Ferreira

Tirei este lindíssimo poema d' O Privilégio das Caminhos.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

OCTOGÉSIMAS-NONAS

O bem estar emocional mede-se, entre muitas coisas possíveis, por esta: a capacidade de apreciar a noite e, antes disso, a necesssidade de poder apreciar a noite. Voltou-me. Por uns dias. Aproveito.

sábado, 13 de dezembro de 2008

OCTOGÉSIMAS-OITAVAS

As trevas estão de volta por uns dias.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

OCTOGÉSIMAS-SÉTIMAS

Cada lugar tem uma noite única. Com o seu cheiro, a sua cor escura, o seu eco. Cada noite é uma inspiração diferente, um afecto diverso, uma temperatura diferente. Cada inspiração transporta-me para pensamentos especiais, sentimentos únicos, climas interiores irrepetíveis. Ouvir a noite é essencial à natureza humana. Falar com ela.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

OCTOGÉSIMAS-SEXTAS



Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

domingo, 7 de dezembro de 2008

OCTOGÉSIMAS-QUINTAS

São cinco da tarde. Cai a noite. Acendem-se as luzes em casa e nas ruas. Algumas são luzes de Natal. Só algumas. asoutras são as luzes de todos os dias e de todas as noites que passam e voltam. Passam e voltam sempre. Mecanicamente. Faz medo, esta mecânica. Pela impotência de a mudar.

sábado, 6 de dezembro de 2008

OCTOGÉSIMAS-QUARTAS

Reparei que um blogue que muito aprecio, um verdadeiro diário de poeta, escrito apenas em poesia, fez quatro anos de vida. Parabéns ao seu autor, blogger maior, Torquato da Luz de seu nome, que com o seu diário consegue tornar menos difícieis os dias de viver e alimentar o sonho de poetar que há em cada um de nós. Deixo-vos esta, que tem particularmente a ver com o meu momento. Como se fosse o Poeta a escrevinhar o meu próprio diário de poesia.

Quando se quebra o encanto e não há nada
mais a fazer que suportar a dor,
quando a noite não traz a madrugada
e o mundo se acinzenta e perde a cor,
quando parece ser o fim da estrada
e qualquer coisa diz que a caminhada
poderia ter tido outro sabor,
é mais que tempo de saltar o muro
e retomar a busca do futuro.

OCTOGÉSIMAS-TERCEIRAS

Já um dia me disseram que sou poeta por dentro. Eu nunca tive jeito para uma estrofe de bairro ou de fotonovela, como as que antigamente, no tempo em que havia o primeiro e o segundo canal da RTP e era um pau, as donas de casa liam avidamente as revistas de fotonovelas. De vez em quando consigo expressar o meu estado emocional com uma frase especial e é tudo. Por isso só tenho de agradecer à amiga Júlia não só a persistência dos comentários como a adjectivação que neles faz do que aqui vou deixando pingar nos intervalos da dureza da vida. Faz-me sentir o que não sou e, bem, concedo, isso, como as "árvores com folhas de arco-íris", também me ilumina por dentro. A Júlia não me conhece, nem eu a ela, nem sabe por que estou a passar. Por isso o que escreve tem tanto valor para mim. O conhecimento tira autenticidade às palavras. Das outras, dessas palavras sem rede, como o trapézio arriscado dos circos que me encantavam em criança no velhinho Coliseu dos Recreios e sempre no dia de Natal, onde a minha avó Irene me levava, é que devemos guardar como pedras preciosas no sangue que nos corre nas veias para irrigar o "sinto, logo existo". Obrigado, Júlia. O seu caminho tem sido uma dádiva para mim. E um privilégio também.

OCTOGÉSIMAS-SEGUNDAS


De novo em frente da janela por onde avisto o mundo. Vejo, por entre o maciço nevoeiro as formas que se movimentam em vida. Luzes esquivas ao fundo denunciam o Natal antecipado. Árvores com folhas de arco-iris é que me iluminam por dentro. Mais as palavras que se soltam no tropel da imaginação. (Fotografia)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

OCTOGÉSIMAS-PRIMEIRAS


Por entre fraquezas múltiplas e afectos vários, viajar por entre o frio, a chuva e quiçá a neve, é apenas uma forma de surf do lado de dentro das ondas.

sábado, 22 de novembro de 2008

OCTOGÉSIMAS

Uma pessoa doente sente que o seu problema é importante para os outros quando os outros dão prioridade ao seu problema antes mesmo de a darem aos seus próprios problemas.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

SEPTUAGÉSIMAS-NONAS

Tenho uma relação estranha com os dias da semana. Odeio as segundas-feiras. Cheira-me a nostalgia da liberdade que exerci no fim de semana. Cheira-me a trabalho, o que só é grave quando trabalhamos naquilo que não gostamos, o que já me aconteceu. Os osso rangem-me sonoramente, parecendo rodas afundadas na areia a tentar sair. Adoro as sextas-feiras. É um dia de expectativa, de promessas, de anúncio de dois dias de liberdade, quando não tenho de trabalhar ao fim de semana, a condição mais deprimente a que um humano se pode prestar. A não ser que trabalhe no que goste. Isto era assim. Agora, nunca sei a que dia da semana me encontro, visto que para mim tanto pode ser fimde semana às terças e quartas, como às quintas e sextas. Eu sou o meu calendário. Não existem diponíveis agendas no mercado para vidas assim.(Fotografia daqui)

SEPTUAGÉSIMAS-OITAVAS

Andar pelas ruas desertas, o frio a cortar a cara por cima do cachecol, os vultos da noite. Luzes de montras desertas de gente. Uma liberdade, sem destino nem rumo. Apenas isso. E tanto.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

SEPTUAGÉSIMAS-SÉTIMAS

Regresso, por instantes, ao meu bairro. Rever as caras que já não via há semanas. A banca da indiana está no mesmo sítio, com a mesma distância do mundo que sempre teve. O frio cai, sinto-o nitidamente, sobre as pedras, as casas e as pessoas. Senti, nítido, o clique entre a amenitude e o frio nocturno. Gostei de perceber que conservo a sensibilidade para as coisas invisíveis. Já noite, reparo que progressivamente as pessoas vão reinstalando o Natal. Como todos os anos, todos, todos, todos. Vou pensando, enquanto observo este mundo meu, que a bolha emocional é um estádio das relações pessoais e que um dia rebenta sempre. Por muito bem que as pessoas se dêem um dia zangam-se. As que são amigas superam. As que não são, não superam.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

SEPTUAGÉSIMAS-SEXTAS

A ermitude agradece o link que o Eternas Saudades do Futuro fez do Palavras Ermas. Engraçado: um nome de blogue que tem exactamente as palavras que eu tenho na cabeça.

sábado, 15 de novembro de 2008

SEPTUAGÉSIMAS-QUINTAS

Um exemplo. Uma força. Uma ajuda. Obrigado. A foto é do Público, ou da Pública, ou que m'interessa isso...

Actualização: e o mais é, por agora, silêncios ermos para recuperar forças da batalha.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

SEPTUAGÉSIMAS-QUARTAS

"Durante o dia, li à luz dourada do Sol de Novembro. Agora, pela noite dentro, escrevo sob a luz prateada da Lua Cheia. Pequenos nadas que são tudo."

João Marchante, Eternas Saudades do Futuro.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

SEPTUAGÉSIMAS-TERCEIRAS

As palavras que aqui são escritas vêm da ermitude. Enquanto a ermitude dura, as palavras estão lá, aguardando ver o Sol, aguardando que a Alegoria da Caverna termine, para poderem ver o Sol. E a ermitude nunca sei quando acaba. Em resposta ao comentário anterior. Hoje, por exemplo, um estranho torpor corporal e mental transportou as palavras para bem longe. Debato-me em letras, jornais, livros e pensamentos. Voltarei.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

SEPTUAGÉSIMAS-SEGUNDAS

O frio. O céu cinzento. As árvores despidas com os ossos à mostra. São três da tarde e já tenho as luzes acesas. O Inverno cerca-me. Cerca-me. Está aqui à minha frente. Resta ler.

SEPTUAGÉSIMAS-PRIMEIRAS

À mesa onde escrevo, sentado de frente para as árvores que tentam sobreviver ao frio lá de fora. O meu pensamento partiu para a ermitude, lá longe, onde se aquece e prepara para o corpo para a nova batalha desta semana. Tudo o mais me é estranho e perigosamente indiferente. Pouca coisa me faz assentar os pés no chão. É mais um tempo de voar. Aterrarei.

sábado, 1 de novembro de 2008

SEPTUAGÉSIMAS

"Cena verídica ocorrida hoje num centro comercial da capital:
As escadas rolantes seguem cheias. Todos olham para cima, ou para a escada fronteira que desce. A certa altura, a escada deixa de subir. Pára. Muitos dos seus momentâneos "passageiros" ficam desorientados, espantados, sem saber o que fazer. Uma criança pergunta:- e agora?
Por regra, não paro em escadas ou passadeiras rolantes, e irrito-me quando as pessoas param e bloqueiam a passagem. Tenho para mim que o objectivo destes apetrechos urbanos é fazer com que as pessoas cheguem mais rapidamente ao outro lado, não servirem-se delas como uma espécie de teleférico junto ao chão.
Por isso, hoje esta cena foi de uma ironia suprema. As pessoas já nem sabem subir escadas e ficam perdidas perante coisas tão simples.Que raio de pessoas fazem parte desta sociedade?"


Lido no Gónio.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-NONAS

Mesmo no amor se manifesta a nossa radical solidão. Quando a pessoa que amamos se refugia na sua solidão deixando-nos à parte. Isso remete-nos imediatamente para a nossa solidão e lembra-nos que, no limite, nós somos apenas nós. Únicos, temporários, transitórios. E sós. É a natureza assim. Não sei se o Criador se deve orgulhar da obra feita.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-OITAVAS

Não há maior deprimência do que viver fora do tempo. É o que acontece com o Natal em Outubro. Já se montam iluminações públicas, já se decoram centros comerciais. É obsceno.

SEXAGÉSIMAS-SÉTIMAS

Ao viver, vou criando raízes. Nos sítios. Nas casas. Nos climas. (Raízes). Bocados de mim que vão ficando por aí e que transporto cá dentro como parte de mim.

sábado, 25 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-SEXTAS

O ser humano é radicalmente só. Por muitas voltas que se dêem, cada um é, para cada qual, o centro do mundo. É o que se sente e não o que se pensa que determina o egocentrismo. Muitas vezes, claro, o egocentrismo não é procurado nem voluntário. É mesmo, muitas vezes, inconsciente. Mas é de cá de dentro, da chamada disposição que partem as lentes com que olhamos tudo à nossa volta.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-QUINTAS

Ainda há céu nas luzes. Ainda há árvores nas folhas em queda. Ainda há dia na noite que cai. A verdade é que há muitas verdades na mesma simplicidade da Natureza. O mesmo é dizer, na simplicidade complexa de um gesto, de um sinal, de um facto cru.

SEXAGÉSIMAS-QUARTAS


Pequenas coisas, grandes prazeres. Estaladiças. Quentinhas. Saborosas. Não há metafísica que resista a umas boas castanhas assadas. A fotografia é daqui.

SEXAGÉSIMAS-TERCEIRAS

A rua, finalmente. Com as dores reduzidas a metade. Engraçado como é relativíssima a noção de Paraíso.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-SEGUNDAS


Obrigado, Aretha Franklin. A foto é daqui.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-PRIMEIRAS

Já me apetece mas ainda não me apetece. Já me levanto mas ainda não me sento. Já leio, mas ainda não escrevo. Já reaqueço mas tenho frio. Detesto os meios caminhos.

SEXAGÉSIMAS

Tenho apenas saudades da minha vida quotidiana normal. Apenas isso. Já só.

domingo, 19 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-NONAS

Durante anos, meio a sério meio a brincar, fui ameaçando o meu barbeiro que um dia ia à máquina zero. Fazia-o mais para ver se o homem se enervava com a diminuição de negócio que tal operação acarreteria. Ele sempre a dizer que se recusava, meio a sério meio a brincar. Eu a dizer-lhe que era um prestador de sreviços, que tinha por obrigação corresponder à encomenda do cliente e tal. E tal, e tal, e tal. Anos a fio. Agora, por ironia cruel do destino, tive mesmo de ir à máquina zero, antes que a máquina zero da natureza me possuísse.

sábado, 18 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-OITAVAS

Um dia inteiro em frente a uma janela por onde apenas vejo árvores e oiço o rebuliço do quotidiano citadino dos outros mas sem ver verdadeiramente os outros e o rebuliço que fazem porque da janela que está todo o dia à minha frente apenas se vêem as árvores do jardim que fica em frente da casa onde me prostro e viajo sem cessar pelas emoções de um teclado das árvores desfolhantes que se vêem pela janela que está à minha frente e do barulho do bulício quotidiano que os outros produzem na cidade enquanto eu apenas vivo emoções e produzo palavras em torrentes

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-SÉTIMAS

Há coisas que me tiram do sério. Crianças aos guinchos, por exemplo. Sobretudo aquelas que as mães ou os pais guincham ainda mais alto que as crianças para as mandar parar de guinchar.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-SEXTAS

No meio da prostração física consegui arrastar-me até um cinema. Não me apetecia pensar. Não me apetecia ser interpelado por importâncias da vida e da morte. Apenas me queria divertir. Oh Mamma Mia... e diverti-me, e cantei. Puro entertenimento. Evasão inconsequente. Faz muito bem.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-QUINTAS

Estranha sensação: a cabeça funciona, mas o corpo não obedece. Deve ser o contrário do que sucede com os robots.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-QUARTAS

À medida que o tempo consegue ir passando e lentamente regresso à realidade, palavra equívoca esta..., fascino-me com as múltiplas dimensões da vida. As múltiplas dimensões da vida sempre me fscinaram. Isto é, ver o que acontece noutros sítios quando eu estou nos meus sítios habituais. E, ao mesmo tempo prisioneiro, olhar pelas vidraças essas dimensões e surpreender-me. Acho que é aqui que reside a minha força vital nestes dias. Srpreender-me. Deixem lá, isto passa. Creio.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-TERCEIRAS

O tempo vai passando. Hoje, esperava que tivesse passado mais do que o que passou. Mas não. O cansaço perdura, a prostração também e a força para ensaiar truques, cara Júlia, é nenhuma. Enfim, há-de passar.

domingo, 12 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-SEGUNDAS

Esperar que o tempo passe é uma arte. A mais difícil.

sábado, 11 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-PRIMEIRAS

Ninguém consegue explicar à minha mãe por que razão os Pingo Doce não vendem todos os mesmos produtos e não praticam todos os mesmos preços. Venham de lá esses pedagogos da economia e do marketing, que esta questão é muito mais importante lá em casa do que a crise mundial.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS

Cartões. Pontos. Pins. Usernames. Passwords. Códigos. Tarifários. Spreads. Descontos sobre descontos se. E se. E, e Se. E, e, e se. Um ror de novas ciencias ocultas onde uma pessoa normal corre sérios riscos de morrer afogada. O mundo está maluco. Está ou não está, digam-me lá?

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-NONAS

Tenho um inexplicável fascínio pelas traseiras da casa onde vivo. Nada nelas sobressai. Nadinha mesmo chama a nossa atenção. Por vezes uns carros estacionam no pátio por onde se acede por um estreito e feioso túnel de ligação à rua. Mas tenho uma ligação indescritível às traseiras da casa onde vivo. É único o seu silêncio durante a noite. Passei horas de dores, fora da cama, completamente ermo, à espera que as dores partissem para regressar à cama, contemplando essas traseiras e escutando esse silêncio. Eu devia odiar essas traseiras de prédios feios com traseiras feias e estendais anárquicos. Mas não. Uma espécie apelo de refúgio une-me a essas traseiras. Sem eu dar por isso elas fazem parte, hoje, da minha vida. Decoraram-me as dores.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-OITAVAS

Coisas bizarras da minha vida que nunca contei a ninguém: comprei apenas um ou dois livros na FNAC desde que existe e porque calhou. Não me sinto, pois, excomungado da sua política comercial nem do seu negócio financeiro dos cartões. Habituem-se...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-SÉTIMAS

Agradeço as ligações feitas pelo Escrita Privada e pelo Ma-Schamba a estas humildes Palavras. Vencida a preguiça inicial e com um bocadinho mais de know-how, com as respectivas ligações ou links, como dizem os novos ricos da linguagem.

QUADRAGÉSIMAS-SEXTAS

Por vezes parece que foi tudo dito, em milhares de anos, de livros, de filmes, de teatros, de vida real até. Como não foi? E, todavia, vem alguém com aquela frase que nunca ouvimos nem lemos e que há muito quríamos dizer ou esperávamos que alguém dissesse. Como é possível esta infinitude?

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-QUINTAS

Veio um torpor enleante que me tolheu e que me chama para o sofá. Afundo-me nele e delicio-me com o tédio que se me impõe. As palavras rareiam, os pensamentos parece que emigraram.

QUADRAGÉSIMAS-QUARTAS

Mesmo para quem não aspire à eternidade, não vale a pena esconder uma ponta de vaidade em quem decide abrir um blogue. Os comentários da Júlia, além de constituirem um inesperado Privilégio, alimentam a minha vaidade.

domingo, 5 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-TERCEIRAS

Hoje há dias para tudo. Dias nacionais, dias europeus, dias mundiais. Normalmnte os dias de servem para dizer que todos os dias deviam ser os dias de. Assim como dizemos do Natal, tão enjoativamente que só nos resta viver o Natal em recato e anonimato. Proponho a extinção de todos os dias de. Em substituição de todos eles haveria apenas o dia mundial dos Poetas.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-SEGUNDAS


Encontro pontas de encanto nas quatro estações do ano. A minha estação era o Verão. No tempo em que eu tinha uma vida normal, no sentido de poder aproveitar todas as vantagens das estações. Agora, limito-me a tentar compreender o significado das emoções que as estações me provocam. Interpelar as cores, os matizes, a riqueza variada das árvores. Sentir o ar frio ou quente. Perceber os caminhos do vento. Como faço com a música.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-PRIMEIRAS

Hoje de manhã, em declarações a uma rádio, a escritora Inês Pedrosa, que actualmente, além de escrever, dirige a Casa Fernando Pessoa, dizia: "Eu, pessoalmente...". Curiosa expressão. Como será o "Eu, impessoalmente"? Mesmo que tenhamos outro ou outros cá dentro (enfim, admita-se que o espírito da Casa penetrou ôntico-intelectualmente a senhora...), como impedir que cada eu seja pessoal?

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS

Sim, nem sempre saem as palavras. Também há silêncios ermos. O que vem provar que elas não têm só vida própria depois de ditas ou escritas, mas também antes, ao recusarem nascer.

domingo, 28 de setembro de 2008

TRIGÉSIMAS-NONAS

A leitora deste humilde blogue ermo Júlia ML queixa-se que eu não respondo aos comentários e questiona-se sobre se será disfunção ou má educação. Creio eu que nem uma coisa nem outra. Apenas falta de disposição. E também falta de tempo. Este é um local ermo onde divago. Onde o tempo me tem outra dimensão. Mas prometo que vou verificar os comentários, que de resto, agradeço, e responderei, cara Júlia. Quanto aos pensamentos engraçados, agradeço a referencia. Sou leitor do seu blogue e gosto muito. É um privilégio para mim este Palavras Ermas ser um dos seus caminhos...

sábado, 27 de setembro de 2008

TRIGÉSIMAS-OITAVAS

Diário do doente: quando estamos doentes o pior é estarmos doentes, sem dúvida. Mas a seguir o pior é que cada ser humano com quem falamos tem a respectiva terapêutica própria e um cardápio exclusivo de conselhos e recomendações. Que explicam e fundamentam detalhadamente, como preenchem a declaração do IRS, fornecendo ainda a lista de casos concretos de sucesso. Para além disto mostrar que existe um médico escondido dentro de cada um de nós, recomenda também que sejamos ermos quando doentes.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

TRIGÉSIMAS-SÉTIMAS

Tenho pena de Herman José. Interrogo-me muitas vezes se é a dependencia do dinheiro ou do ecran que o impede de perceber que há vários anos que o seu prazo de validade como entertainer e humorista acabou. O que é facto é que hoje rimo-nos de Herman não porque ele tem graça mas por que ainda não percebeu que já não a tem. Tornou-se patético o que era inteligente. Ficou ridículo o que antes tinha piada. Não passa de bajulação oca de tudo e todos, o que era irreverencia. Saber sair a tempo é de facto virtude que a poucos bafeja.

TRIGÉSIMAS-SEXTAS

Nunca percebi por que razão nunca gostei de me ver na televisão. Deve ser um problema psicológico. Apesar de muitas mulheres (não muitas felizmente!) me acharem bonito e de algumas outras dizerem ter uma excelente voz, a verdade é que nunca revi programas em que entrei ou entrevistas que dei. Não sei se é uma questão de timidez, de insegurança ou de auto-estima.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

TRIGÉSIMAS QUINTAS

Entrámos na estação das folhas ermas. Elas vão caindo, numa orgia de tonalidades e vão desaparecendo, deixando as árvores vazias. E morrerão, não se sabe onde nem quando. Uma aventura de vida irreversível.

sábado, 20 de setembro de 2008

TRIGÉSIMAS-QUARTAS


Para um burguês ataviado, que gosta de escrever umas merdas de vez em quando, mais ao desabafo que ao literato, que é justamente o meu caso, a capa da última Ler é irresistível. "O homem que ensina Portugal a pensar" faz-nos comprar imediatamente a revista. Afinal de contas, quem será o magano que afinal pôs isto neste estado, é o que avidamente buscamos saber. Para lhe fazer o quê, logo se verá depois de ler. Depois, repuxando os olhos ao cimo, desperta-nos o divertimento do riso de Machado de Assis, cem anos depois. Sempre é um avanço poder rir sem ser da SIC e da TVI. O pior, como se não bastasse já, vem no título do meio: os livros que os nossos filhos, mais rigorosamente dos 6 aos 18 anos (não dos 7 aos 17, nem dos 5 aos 16, rigorosamente dos 6 aos 18!) devem ler "além dos livros escolares". Como? Oh Francisco: não pode pôr os titaleiros da revista em ordem? Então Vocências querem impingir uma lista do "deve ler"? Não esperava essa atitude da sua parte, muito menos dirigida a jovens ainda não dotados de suficientes intrumentos críticos de selecção. Mas você é que é o Director, aguente-se... Ah e vou continuar a Ler a revista, claro. Mas cuidado com os títulos.

TRIGÉSIMAS-TERCEIRAS

Eu também oiço as coisas da política. E tenho uma coisa a dizer: há um sujeito chamado Pedro Marques Lopes, que não sei de onde apareceu, mas também não me interessa, que agora aparece em todo o lado, designadamente no Rádio Clube Português e num programa da SIC Notícias que consigo nunca ver, que é o Eixo do Mal. Sinceramente, tenho a dizer que não gosto de o ouvir. Parece que está sempre zangado, diz enormidades categóricas, e arranha o éter. Eu sei que isto é uma superficialidade. Mas apeteceu-me. Acho que condiz com a pessoa.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

TRIGÉSIMAS-SEGUNDAS

Como hei-de eu fazer isto?... Constato que oito blogues se ligaram ao Palavras Ermas. O Viagens no Meu Sofá, o Gónio, o Congeminações, o Aqui, o Apdeites V2, o Estado Sentido, O Andarilho e o Privilégio dos Caminhos. Talvez dizer simplesmente obrigado pela atenção. E eu com a minha preguiça, nem faço as devidas hiper-ligações. Também, são as palavras que contam, não é assim?...

TRIGÉSIMAS-PRIMEIRAS

Há barulhos e cheiros que irresistivelmente me atraiem. Deixemos agora os cheiros de lado. Hoje, estou especialemente sensível a um dos barulhos de que mais gosto: o barulho de retirar andaimes de prédios. Passei o Verão com andaimes à frente da minha janela, com ferros entre o meu olhar e o Sol, só para mudarem o telhado do prédio. Hoje, estão a tirá-los. Parece que uma nova vida começa. Curioso como associo certas coisas a um recomeço.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

TRIGÉSIMAS

As palavras, só as palavras, às vezes, libertam-me. É como se objectivá-las me aliviasse de um sufoco, por milagre. Ai, há milagres, há. Não são os das religiões, mas os das emoções. Não interessa quando, nem onde, nem como se escrevem elas. É preciso é soltá-las. Elas sabem sempre voar, logo assim que nascem.

VIGÉSIMAS-NONAS

Há dias que a minha definição de felicidade é ler e escrever. Outros não. A felicidade é assim: não tem definição, apenas circunstâncias. Por isso é toda ela efémera.

VIGÉSIMAS-OITAVAS

Se eu disser que estou afadigado pode entender-se que a fadiga tomou posse das minhas carnes e ânimos, como pode entender-se que estou muito ocupado em várias tarefas ao mesmo tempo. Eu estou afadigado. Mas esclareço que é no sentido primeiro. Eu sei que isto não vos interessa para nada. Mas apeteceu-me dizê-lo e disseram-me que um blogue também serve para estas inutilidades.

VIGÉSIMAS-SÉTIMAS

Há detalhes que subitamente nos revelam coisas da vida que nada mais, por muito que tenha sido, nos conseguiu mostrar. No meio da enfermidade, resolvi sair de casa ontem de manhã para experimentar a readaptação à vida exterior. Não saía há três dias. À rua, que hoje saímos e entramos do mundo interiro à distância de uma tecla. Mas o ar, o ar é sempre o ar. Ainda fraco, lá fui andando. Atravessei a rua. Irresistivelmente fatigado, destreinado, receoso?, decidi sentar-me no jardim em frente da minha casa. Um jardim pequeno, rodeado de altas árvores no meio da cidade barulhenta e poluída, com uma imprescindível estátua de um personagem da vida real local a encimá-lo. Daqueles jardins que se diriam desenhados por Salazar para o livro de leitura da 3ª classe para ilustrar uma cidade feliz. E foi aí que de repente me vieram à memória tantos e tantos velhotes que tenho visto ao longo da vida sentados em jardins outros, sózinhos no seu banco e no seu mundo. São detalhes. De velhice.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

VIGÉSIMAS SEXTAS

Marques Mendes escreveu um livro. Eh, eh! Grave, grave é que um jornal dito de referencia (referencia de quê?) fez manchete com este facto.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

VIGÉSIMAS-QUINTAS


Sempre tive uma relação complexa com o Magoito. Dividia-me entre a fealdade de certos lugares e a estrondosa magnitude do mar e das escarpas e da espuma gasosa das ondas que batiam nas rochas, a pairar sobre tudo. Depois achava que o lugar, pelas terreolas fora, sem passado, sem traço, sem diferença, sem chama, eram depressivas e desinteressantes. Perto, em Fontanelas, Vergílio Ferreira era capaz de escrever do melhor que tenho lido vida fora. E eu pensava: "Que diacho de coisa! E a mim qu'isto para aqui não me diz nada." Hoje, penso que talvez fosse a simplicidade brutal do sítio que me desenquadrava dele. É muito difícil perceber, falar, viver na simplicidade. Muito menos aos quinze anos. Mas agora sabia-me bem sentir a brutalidade daquele mar, sentado cá em cima ao pé da pequena fortaleza que parece Finisterra. Só eu e o mar vasto à minha frente. Hoje precisava dessa dimensão da pequenez.


(Tirei a fotografia daqui)

VIGÉSIMAS QUARTAS

Nós só somos donos das palavras enquanto não as dizemos, enquanto não as escrevemos. Depois, deixam de nos pertencer e ganham vida própria. Os autores das palavras são apenas a legenda delas.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

VIGÉSIMAS TERCEIRAS

Pronto. É assim. Tudo de bom. Os suportes de linguagem usados indiscriminadamente sem nexo no discurso oral das pessoas irrita-me.

VIGÉSIMAS SEGUNDAS

A prostração física desenvolve-me por vezes a veia criativa. O problema é quando o corpo não acompanha a criatividade e não há força nem sequer para dedilhar, por caneta em papel, por tecla em computador, por pincel em tela, por dedos em instrumento, o que nos assola o pensamento. É o meu caso hoje.

domingo, 14 de setembro de 2008

VIGÉSIMAS PRIMEIRAS

Não me venham já dizer que o assunto não tem relevância, porque tem. Sucede que gosto de bolos. Mais de uns do que de outros. Deliro, por exemplo com quase tudo o que é petit fours, sortido húngaro coum ou sem recheio, excepto uns horrorosos de coco. Mas acho uma falsificação digna de intervenção ASAEana que as pastelarias nos vendam gato por lebre. Ou seja: da mesma massa, exactamente da mesma massa, fabriquem sob formas diferentes exactamente os mesmos bolos na substância. Por exemplo, da mesma massa há quem faça pães de leite (o caraças para o leite!), croissants (verdadeiras ofensas à cultura francesa), umas coisas horríveis a que recuso chamar bolos, que há quem designe de orelhas, horror!, laços, brrrrrrrr!, bastando para tal pôr-lhes uma cereja cristalizada em cima ou um arremedo de creme numa preponderância ocasional. Abaixo a falsificação da pastelaria portuguesa!

sábado, 13 de setembro de 2008

VIGÉSIMAS

"Cruzo-me diariamente com esta, com outra e aquela pessoa no metro e na rua que subo diariamente até ao escritório. Conheço-lhes os passos, o cheiro, o guarda-roupa e alguns dos seus vícios. Conheço-os melhor do que a muitos dos meus primos e tios e nem um "Bom dia" lhes digo. Qualquer dia faço-o. Um destes dias chamar-me-ão maluco!"
João Maria Condeixa, no Camara de Comuns.
Nas palavras dos outros vejo coisas que já pensei e nunca escrevi.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

DÉCIMAS NONAS


Interessam-me muito as cores. Do céu, das árvores, dos montes, das casas. Por elas percebo estados de espírito. E vejo-as através do meu estado de espírito. A mesma cor já me assolou feia e já me encantou de empatia instantanea.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

DÉCIMAS OITAVAS

Andava meio país excitado com o silêncio de Ferreira Leite. A senhora falou. O país não mudou, claro. O Governo também não. Os meus problemas de coluna estão exactamente na mesma. Acho apenas as noites ligeiramente mais frias, o que julgo ter mais a ver com o facto de o Verão estar a chegar ao fim. Por mim, fazia-se oposição três meses antes de cada eleição e pronto. Poupava-se uma pipa de massa e muita palavragem.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

DÉCIMAS SÉTIMAS

Verifico que cada vez mais pessoas não conseguem conviver com o silêncio. Passam o dia com a televisão, que não olham nem ouvem, ligada. Ou com o rádio. Ou com o mp3. Ou com o mp4. Ou, ou, ou. Será que isto revela que têm dificuldade em conviver consigo próprias? Ou então será que apenas querem disfarçar a solidão com barulho ilusório?

terça-feira, 9 de setembro de 2008

DÉCIMAS SEXTAS

Eu gosto de futebol. Ao princípio fascinavam-me os jogos, sobretudo os do meu clube. Mas em qualquer jogo era incapaz de não torcer por alguém. Hoje aprecio sobretudo as histórias humanas à volta do futebol. É por isso que de Pinto da Costa, como pessoa, que muitos odeiam, que eu sempre detestei por achar que simbolizava tudo quanto de podre é a pequenina sociedade portuguesa, e que muitos diabolizam, como ele gosta, aliás, hoje apenas consigo sentir pena. Muita pena. Deve ser uma pessoa muito infeliz. Por dentro.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

DÉCIMAS QUINTAS

Hoje amo uma mulher como nunca amei. Como saber quando se ama? Se não podemos experimentar todas as mulheres que nos atraiem? Se não temos um amorómetro? Hoje amo uma mulher como nunca amei. Nem sequer como amei a mulher com que casei.

domingo, 7 de setembro de 2008

DÉCIMAS QUARTAS

Há dias em que as ideias se me atropelam. Outros em que me deixam num vazio profundo. Mas pensamos sempre, mesmo quando pensamos em nada. Porque não há momento nenhum em que alguma coisa não nos preencha o pensamento. O nada é sempre alguma coisa, ainda que não nos ocorram os vocábulos de de o descrever. E não é possível transmitir nunca plenamente tudo o que somos, se tudo o que somos inclui tudo o que pensamos. Nessas sobras que se quedam exprime-se uma indizível e incontornável solidão. Radicalmente.

sábado, 6 de setembro de 2008

DÉCIMAS TERCEIRAS

Confesso: não gosto do Porto. Um dia que tenha pachorra posso explicar. Agora, viver no Porto este fim de semana deve ser uma verdadeira tortura, com os tarados dos aviões a entupirem a cidade, os barulhos dos aviões a entupir os ouvidos e os fumos dos aviões a entupir os olhos.

DÉCIMAS SEGUNDAS

Estou em greve de salgados. De croquetes, de rissóis, de pastéis de bacalhau. Enquanto a Versalhes estiver em obras darei uma folga ao fígado.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

DÉCIMAS PRIMEIRAS

Vi-me aflito para abrir uma conta de email no Gmail. Primeiro que eu atinasse com as letras de verificação que eles exigem foi o cabo dos trabalhos. Serei pitosga ou os gajos não querem mesmo que o pessoal abra mais contas?

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

DÉCIMAS

Tenho uma incompatibilidade especial com os restaurantes gourmet. Quando como gosto de ter comida no prato, em primeiro lugar e de comer mesmo, em segundo lugar. Aqueles pratos de meio metro de diametro onde, com uma potente lupa, e depois de muito viajar pelo deserto, conseguimos arqueologizar uma batata, um bróculo, um pingo de um molho experimental feito de plantas de estufa, tudo convenientemente arrumado no centro geodésico do prato e com 2 milímetros cúbicos de entrecôte fumado em lareira da Provença por debaixo de tão proteicas decorações, fazem-me urticária estomatológica.

NONAS

Sem muitas vezes darmos por isso os nossos hábitos mudam lentamente. A primeira coisa que eu fazia quando saía de manhã para estudar primeiro, para trabalhar depois e para preguiçar nos respectivos intervalos, era estacionar numa banca de jornais e demorar-me cinco minutos a ler as primeiras páginas. Hoje reparo que já não faço isso. Espero pela divulgação das primeiras páginas dos jornais na SIC Notícias à uma da manhã.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

OITAVAS

Estou vaidoso. Abri esta geringonça à tardinha e já recebi quatro comentários. Não sabia que havia tanta interacção.

SÉTIMAS

Querem um exemplo de coisinhas feias que é constrangedor dizer, do tal indizível? Aí vai: eu tenho inveja, sim, inveja, seja lá ela um pecado para alguns, um defeito para outros, uma tortura para outros ainda. Tenho inveja de um blogue que eu gostaria de ter imaginado e escrito e que já acabou. Mas decidi pô-lo à mesma na lista dos links. Este.

SEXTAS

Nunca percebi a razão pela qual quando um homem e uma mulher vão a um restaurante e pedem uma cerveja e uma coca-cola os empregados põem sempre a coca-cola à frente do prato da mulher e a cerveja à frente do prato do homem.

QUINTAS

- Bom dia.
-Faz favor...
-Queria um quarto de água do Luso.
-Luso não tenho. Pode ser Fastio?
-Se pudesse ser Fastio não tinha pedido Luso.
Eis um diálogo impossível nos cafés, nas tascas e nos restaurantes portugueses. Passamos a vida a comer e a beber o que não queremos.

QUARTAS

Um dos tiques da oralidade lusitana que mais me enerva é a utilização dos inhos e das inhas. Porra, que enjôo. Um cafézinho, um bolinho, a Sofiazinha, uma caminha, um carrinho, um soninho. Um verdadeiro pesadelozinho, esta mania.

TERCEIRAS

Uma das coisas que mais me diverte são as gaffes. Lembro-me de uma entrevista à TVI em que o pretendente ao trono D. Duarte, questionado sobre o número de convidados do seu casamento com Isabel, justificou que não pôde convidar toda a gente que desejava e rematou, entre o conformado e o esperançoso, com um "fica para a próxima". Delicioso, do ponto de vista da convicção na durabilidade do casamento.

SEGUNDAS

Ermas são as minhas palavras que nascem, vivem e morrem em solidão, em ermitude, lá no deserto do indizível. Ai, se temos todos um território do indizível, oh se temos. Deixem-se de coisas.

PRIMEIRAS

Quantas vezes pensamos e não podemos dizer. Quantas. Até para não magoar pessoas queridas. Ao contrário do que se pensa o mundo e a civilização seriam inviáveis na base apenas da verdade. E a mentira ou a omissão são como as armas, as drogas, e quase tudo na vida: podem ser bem ou mal usadas. Eu, tantas vezes ermo rodeado de gente por todos os lados, apetece-me dizer palavras ermas. Maravilhosa liberdade.