sexta-feira, 31 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-NONAS

Mesmo no amor se manifesta a nossa radical solidão. Quando a pessoa que amamos se refugia na sua solidão deixando-nos à parte. Isso remete-nos imediatamente para a nossa solidão e lembra-nos que, no limite, nós somos apenas nós. Únicos, temporários, transitórios. E sós. É a natureza assim. Não sei se o Criador se deve orgulhar da obra feita.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-OITAVAS

Não há maior deprimência do que viver fora do tempo. É o que acontece com o Natal em Outubro. Já se montam iluminações públicas, já se decoram centros comerciais. É obsceno.

SEXAGÉSIMAS-SÉTIMAS

Ao viver, vou criando raízes. Nos sítios. Nas casas. Nos climas. (Raízes). Bocados de mim que vão ficando por aí e que transporto cá dentro como parte de mim.

sábado, 25 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-SEXTAS

O ser humano é radicalmente só. Por muitas voltas que se dêem, cada um é, para cada qual, o centro do mundo. É o que se sente e não o que se pensa que determina o egocentrismo. Muitas vezes, claro, o egocentrismo não é procurado nem voluntário. É mesmo, muitas vezes, inconsciente. Mas é de cá de dentro, da chamada disposição que partem as lentes com que olhamos tudo à nossa volta.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-QUINTAS

Ainda há céu nas luzes. Ainda há árvores nas folhas em queda. Ainda há dia na noite que cai. A verdade é que há muitas verdades na mesma simplicidade da Natureza. O mesmo é dizer, na simplicidade complexa de um gesto, de um sinal, de um facto cru.

SEXAGÉSIMAS-QUARTAS


Pequenas coisas, grandes prazeres. Estaladiças. Quentinhas. Saborosas. Não há metafísica que resista a umas boas castanhas assadas. A fotografia é daqui.

SEXAGÉSIMAS-TERCEIRAS

A rua, finalmente. Com as dores reduzidas a metade. Engraçado como é relativíssima a noção de Paraíso.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-SEGUNDAS


Obrigado, Aretha Franklin. A foto é daqui.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

SEXAGÉSIMAS-PRIMEIRAS

Já me apetece mas ainda não me apetece. Já me levanto mas ainda não me sento. Já leio, mas ainda não escrevo. Já reaqueço mas tenho frio. Detesto os meios caminhos.

SEXAGÉSIMAS

Tenho apenas saudades da minha vida quotidiana normal. Apenas isso. Já só.

domingo, 19 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-NONAS

Durante anos, meio a sério meio a brincar, fui ameaçando o meu barbeiro que um dia ia à máquina zero. Fazia-o mais para ver se o homem se enervava com a diminuição de negócio que tal operação acarreteria. Ele sempre a dizer que se recusava, meio a sério meio a brincar. Eu a dizer-lhe que era um prestador de sreviços, que tinha por obrigação corresponder à encomenda do cliente e tal. E tal, e tal, e tal. Anos a fio. Agora, por ironia cruel do destino, tive mesmo de ir à máquina zero, antes que a máquina zero da natureza me possuísse.

sábado, 18 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-OITAVAS

Um dia inteiro em frente a uma janela por onde apenas vejo árvores e oiço o rebuliço do quotidiano citadino dos outros mas sem ver verdadeiramente os outros e o rebuliço que fazem porque da janela que está todo o dia à minha frente apenas se vêem as árvores do jardim que fica em frente da casa onde me prostro e viajo sem cessar pelas emoções de um teclado das árvores desfolhantes que se vêem pela janela que está à minha frente e do barulho do bulício quotidiano que os outros produzem na cidade enquanto eu apenas vivo emoções e produzo palavras em torrentes

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-SÉTIMAS

Há coisas que me tiram do sério. Crianças aos guinchos, por exemplo. Sobretudo aquelas que as mães ou os pais guincham ainda mais alto que as crianças para as mandar parar de guinchar.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-SEXTAS

No meio da prostração física consegui arrastar-me até um cinema. Não me apetecia pensar. Não me apetecia ser interpelado por importâncias da vida e da morte. Apenas me queria divertir. Oh Mamma Mia... e diverti-me, e cantei. Puro entertenimento. Evasão inconsequente. Faz muito bem.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-QUINTAS

Estranha sensação: a cabeça funciona, mas o corpo não obedece. Deve ser o contrário do que sucede com os robots.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-QUARTAS

À medida que o tempo consegue ir passando e lentamente regresso à realidade, palavra equívoca esta..., fascino-me com as múltiplas dimensões da vida. As múltiplas dimensões da vida sempre me fscinaram. Isto é, ver o que acontece noutros sítios quando eu estou nos meus sítios habituais. E, ao mesmo tempo prisioneiro, olhar pelas vidraças essas dimensões e surpreender-me. Acho que é aqui que reside a minha força vital nestes dias. Srpreender-me. Deixem lá, isto passa. Creio.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-TERCEIRAS

O tempo vai passando. Hoje, esperava que tivesse passado mais do que o que passou. Mas não. O cansaço perdura, a prostração também e a força para ensaiar truques, cara Júlia, é nenhuma. Enfim, há-de passar.

domingo, 12 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-SEGUNDAS

Esperar que o tempo passe é uma arte. A mais difícil.

sábado, 11 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS-PRIMEIRAS

Ninguém consegue explicar à minha mãe por que razão os Pingo Doce não vendem todos os mesmos produtos e não praticam todos os mesmos preços. Venham de lá esses pedagogos da economia e do marketing, que esta questão é muito mais importante lá em casa do que a crise mundial.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

QUINQUAGÉSIMAS

Cartões. Pontos. Pins. Usernames. Passwords. Códigos. Tarifários. Spreads. Descontos sobre descontos se. E se. E, e Se. E, e, e se. Um ror de novas ciencias ocultas onde uma pessoa normal corre sérios riscos de morrer afogada. O mundo está maluco. Está ou não está, digam-me lá?

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-NONAS

Tenho um inexplicável fascínio pelas traseiras da casa onde vivo. Nada nelas sobressai. Nadinha mesmo chama a nossa atenção. Por vezes uns carros estacionam no pátio por onde se acede por um estreito e feioso túnel de ligação à rua. Mas tenho uma ligação indescritível às traseiras da casa onde vivo. É único o seu silêncio durante a noite. Passei horas de dores, fora da cama, completamente ermo, à espera que as dores partissem para regressar à cama, contemplando essas traseiras e escutando esse silêncio. Eu devia odiar essas traseiras de prédios feios com traseiras feias e estendais anárquicos. Mas não. Uma espécie apelo de refúgio une-me a essas traseiras. Sem eu dar por isso elas fazem parte, hoje, da minha vida. Decoraram-me as dores.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-OITAVAS

Coisas bizarras da minha vida que nunca contei a ninguém: comprei apenas um ou dois livros na FNAC desde que existe e porque calhou. Não me sinto, pois, excomungado da sua política comercial nem do seu negócio financeiro dos cartões. Habituem-se...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-SÉTIMAS

Agradeço as ligações feitas pelo Escrita Privada e pelo Ma-Schamba a estas humildes Palavras. Vencida a preguiça inicial e com um bocadinho mais de know-how, com as respectivas ligações ou links, como dizem os novos ricos da linguagem.

QUADRAGÉSIMAS-SEXTAS

Por vezes parece que foi tudo dito, em milhares de anos, de livros, de filmes, de teatros, de vida real até. Como não foi? E, todavia, vem alguém com aquela frase que nunca ouvimos nem lemos e que há muito quríamos dizer ou esperávamos que alguém dissesse. Como é possível esta infinitude?

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-QUINTAS

Veio um torpor enleante que me tolheu e que me chama para o sofá. Afundo-me nele e delicio-me com o tédio que se me impõe. As palavras rareiam, os pensamentos parece que emigraram.

QUADRAGÉSIMAS-QUARTAS

Mesmo para quem não aspire à eternidade, não vale a pena esconder uma ponta de vaidade em quem decide abrir um blogue. Os comentários da Júlia, além de constituirem um inesperado Privilégio, alimentam a minha vaidade.

domingo, 5 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-TERCEIRAS

Hoje há dias para tudo. Dias nacionais, dias europeus, dias mundiais. Normalmnte os dias de servem para dizer que todos os dias deviam ser os dias de. Assim como dizemos do Natal, tão enjoativamente que só nos resta viver o Natal em recato e anonimato. Proponho a extinção de todos os dias de. Em substituição de todos eles haveria apenas o dia mundial dos Poetas.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-SEGUNDAS


Encontro pontas de encanto nas quatro estações do ano. A minha estação era o Verão. No tempo em que eu tinha uma vida normal, no sentido de poder aproveitar todas as vantagens das estações. Agora, limito-me a tentar compreender o significado das emoções que as estações me provocam. Interpelar as cores, os matizes, a riqueza variada das árvores. Sentir o ar frio ou quente. Perceber os caminhos do vento. Como faço com a música.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS-PRIMEIRAS

Hoje de manhã, em declarações a uma rádio, a escritora Inês Pedrosa, que actualmente, além de escrever, dirige a Casa Fernando Pessoa, dizia: "Eu, pessoalmente...". Curiosa expressão. Como será o "Eu, impessoalmente"? Mesmo que tenhamos outro ou outros cá dentro (enfim, admita-se que o espírito da Casa penetrou ôntico-intelectualmente a senhora...), como impedir que cada eu seja pessoal?

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

QUADRAGÉSIMAS

Sim, nem sempre saem as palavras. Também há silêncios ermos. O que vem provar que elas não têm só vida própria depois de ditas ou escritas, mas também antes, ao recusarem nascer.