sábado, 20 de dezembro de 2008

NONAGÉSIMAS


LADAÍNHA DOS PÓSTUMOS NATAIS

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
e que não viva ninguém meu conhecido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito.

David Mourão Ferreira

Tirei este lindíssimo poema d' O Privilégio das Caminhos.

1 comentário:

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

olhe,que nesse infinito que vê aí puro, branco e é a junção de todas as cores, cresça um arco-iris!