Estou a trabalhar. Eu, cá metido comigo e com os meus pensamentos. São-me indiferentes os ruídos do exterior que me sujam as janelas que gostava de abrir para poder viajar e que não posso porque as companhias sonoras que vêm do exterior me estragariam a viagem. Felizmente, não sou o único que trabalha hoje. Há mais ermos a trabalhar no dia do trabalhador: nos transportes, nos hospitais, nos restaurantes. O que é trabalhar? É fazer aquilo de que se gosta. Hoje, tenho o privilégio de estar a fazer o que gosto: estou a ler, estou a escrever, estou a trabalhar, repito. Se trabalhar é fazer aquilo que se é obrigado a fazer para sobreviver então o trabalho não dignifica o homem: viabiliza-o, que é uma coisa bem diferente.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
sábado, 25 de abril de 2009
CENTÉSIMAS VIGÉSIMAS-OITAVAS
Palavras ermas são palavras livres. Só isso. E talvez hoje fosse melhor todos pouparem nas palavras e gastarem mais em viver simplesmente a liberdade. As palavras mal empregues estragam a liberdade. Olhem só que belo exemplo este.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
CENTÉSIMAS-VIGÉSIMAS-SÉTIMAS
Sempre me preocupou o facto de me saber muito bem estar longas horas calado. Sem a intimação da fala. Pensando sem ver. Observando sem pensar. Ocorrendo-me simplesmente ideias, muitas delas que nunca chegaram ao verbo. Sempre me preocupou tanto quanto o prazer que retiro do silêncio. E esse é que é o problema. Vai-se perdendo hoje a liberdade de falar ou estar calado. Quando se opta pelo silêncio é-se tomado de ponta nos convívios, suspeitam de milhentas conjecturas, cada uma mais grave que a outra e, mais recentemente, até nos passam raspanetes por não termos atendido o telemóvel à primeira. Ide bugiar todos!
quarta-feira, 15 de abril de 2009
CENTÉSIMAS-VIGÉSIMAS-SEXTAS
Hoje foi dia de futebol. E lá voltei a ouvir o anacronismo de que muita gente torceu pelo Porto porque este é um clube português. Francamente não entendo, nos dias que correm este argumento nacional de preferencia clubística. Para começo de conversa o futebol é uma arte e não me consta que se aprecie uma obra de arte em função da nacionalidade dos artistas. Mas prosseguindo: o que define a "nacionalidade" de um clube de futebol hoje em dia? A nacionalidade do proprietário? O local da sede da sociedade proprietária? A nacionalidade dos treinadores? A nacionalidade dos jogadores? O local onde o clube nasceu? Entendam-se, por favor. Para mim, o Benfica é uma mini-sociedade das Nações, o F. C. Porto é um género argentino, o Chelsea é luso-russo, o Manchester United é muito português e o Liverpool está mui guapo. A paixão clubística, incluindo a minha é de génese irracional. O resto é conversa de intelectuais.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
CENTÉSIMAS-VIGÉSIMAS-QUINTAS
Agradeço ao Delito de Opinião o delito que acabou de cometer ao estabelecer ligação directa para este blogue ermo. Mais uma simpatia. Imerecida.
CENTÉSIMAS-VIGÉSIMAS-QUARTAS
Para hoje e dias seguintes, um alimento tradicional e saboroso. O folar. Este vai segundo a receita da Dina.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
CENTÉSIMAS-VIGÉSIMAS-TERCEIRAS
Tenho uma atracção especial por estar em sítios a contra ciclo. Por exemplo, estar numa cidade vazia por estar em fim de semana prolongado. Por exemplo, estar numa escola vazia porque decorrem as férias da Páscoa. Gosto, enfim, de estar em sítios ermos. Ouvir os silêncios. O barulho singelo da folhagem das árvores ao vento. Circular por entre pedras, paredes, portas e janelas cheias de inconfessáveis segredos.
sábado, 4 de abril de 2009
CENTÉSIMAS-VIGÉSIMAS-SEGUNDAS
Má sorte ter sido puta. A palavra dos Acordos Desortográficos é uma minhoca bailarina. Brinca aos lábios, esquiva-se como um esquilo saltitão, ri-se das armadilhas que vai semeando, impune, rabina, esquiva, por essas bocas fora. A palavra igual, o vocábulo dito, é uma desigualdade à nascença. A mesmíssima filologia na boca de uma puta não vale nada. A filologia só vale na boca dos senhores e das senhoras. Quem foi puta, está escrito nas estrelas, não tem credibilidade, diz o léxico hipócrita vigente na sociedade das sombras. É oficial. Cuidado com as dúvidas...
sexta-feira, 3 de abril de 2009
CENTÉSIMAS-VIGÉSIMAS-PRIMEIRAS
A Júlia conhece-me bem, é uma boa captadora de espiritualidades. Se as palavras são ermas é porque não gostam de muito eco... mas nunca se pode esquecer que quem escreve, escreve sempre na esperança de que alguém leia. É assim como uma segunda natureza.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
CENTÉSIMAS-VIGÉSIMAS
Quem já leu o Acordo Ortográfico ponha o dedo no ar! Vêem, vêem? O que interessa é a palavra, não a regra da palavra. Cada produtor de palavra emite-a ou grafica-a como o seu espírito manda. Se os acordos ortográficos da vida valessem alguma coisa, a não ser para efeitos industriais, quantos livros que lemos e gostamos passariam a monos de letras remetidos para os stocks a abater?
quarta-feira, 1 de abril de 2009
CENTÁSIMAS-DÉCIMAS-NONAS
Oh diabo! Esta é que nunca me tinha passado pela cabeça. Ser o blogue da semana para um tão conceituado Delito de Opinião é socialização blogoesférica que assusta qualquer ermo!... Mas, deixemo-nos de tretas, é uma sensação boa. Agradeço ao Jorge Assunção a escolha.
domingo, 29 de março de 2009
sábado, 28 de março de 2009
sexta-feira, 27 de março de 2009
CENTÉSIMAS-DÉCIMAS-SEXTAS
Já perdi a memória de todos os medicamentos que tomei nos últimos meses e para quê. Aconselharam-me no hospital a comprar daquelas caixinhas para meter parafusos de várias espécies e tamanhos, com pequenas gavetas, que há à venda nos supermercados. Para meter os comprimidos e colar pequenos rótulos nas gavetas com a respectiva posologia. Não quis. Não me apeteceu fazer colecção de comprimidos, como fazia antigamente de berlindes.
quinta-feira, 19 de março de 2009
CENTÉSIMAS-DÉCIMAS-QUINTAS
Sorte: outra vez o Sol poderoso a iluminar-me a estrada do caminho que tenho de fazer. Outra vez o horizonte límpido, os campos verdes a rebentar do rigoroso Inverno. Sorte.
quarta-feira, 18 de março de 2009
CENTÉSIMAS-DÉCIMAS-TERCEIRAS
SONETO
Meus dias de rapaz, de adolescente,
Abrem a boca a bocejar, sombrios:
Deslizam vagarosos, como os Rios,
Sucedem-se uns aos outros, igualmente.
Nunca desperto de manhã, contente.
Pálido sempre com os lábios frios,
Ora, desfiando os meus rosários pios...
Fora melhor dormir, eternamente!
Mas não ter eu aspirações vivazes,
E não ter como têm os mais rapazes,
Olhos boiados em sol, lábio vermelho!
Quero viver, eu sinto-o, mas não posso:
E não sei, sendo assim enquanto moço,
O que serei, então, depois de velho.
Belos Ares, 1889.
António Nobre
CENTÉSIMAS-DÉCIMAS-SEGUNDAS
De regresso à cadeira de onde vejo, pela janela à minha frente o jardim das árvores outrora despidas. Enquanto desci aos infernos, o tempo mudou. As árvores enchem-se de um apetitoso volume verde de folhagem sequiosa de Sol. Como eu.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
CENTÉSIMAS-DÉCIMAS-PRIMEIRAS
Uma ex-concorrente do Big Brother britânico vendeu a uma televisão os direitos de transmissão dos seus últimos dias em directo. Até o primeiro-ministro, Gordon Brown já comentou o caso e aplaude a decisão. Eu acho (palavra que detesto, aliás) que o mundo está louco.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
CENTÉSIMAS-DÉCIMAS
Confesso: tenho uma relação de amor-ódio com as áreas de serviço das auto-estradas. Cada vez que adquiro qualquer coisa que não sejam jornais ou cigarros (preço igual em todo o lado) sinto-me pura e simplesmente explorado. Da simples bica, que varia entre os setenta e os noventa cêntimos (!) até outros luxos como bolachas, chocolates ou pastilhas elásticas, em todos e em cada um dos produtos que vendem ao dependente público que as frequentam, as áreas de serviço parecem querer angariar o valor da brutal renda que pagam às gasolineiras por estar ali. Ao mesmo tempo, eu preciso das áreas de serviço quando em viagem pelas auto-estradas e quantas faço! Preciso da bica periódica, do engana-a-fome que tanto pode ser o tal chocolate mais de Inverno, a referida farinácea, mais para o Verão, quiçá um geladito para refrescar. Posto isto: o que nunca me tinha acontecido foi o que me aconteceu na área de serviço de Santarém, no posto da BP. Pedi meia torrada e a diligente funcionária respondeu-me: "não fazemos". Só uma. A senhora só tem ordens do insaciável e ganacioso concessionário para vender torradas inteiras, porque a sua ganancia não se sacia com seres humanos parcos em torradas, que só necessitem de meia. Por absoluta necessidade condescendi. A funcionária do insaciável e ganacioso concessionário, neste caso aparenta ser a própria BP, uma vez que as funcionárias (não havia homens a atender) ostentavam a correspondente farda, serviu-me uma torrada e exigiu-me o pagamento correspondente. Vou lá voltar e sem necessidade voltar a pedir meia torrada. E dessa vez, a guerra vai começar no livro de reclamações.
Tirei o logotipo daqui.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
CENTÉSIMAS-NONAS
Vaguear por aí. De site em site. Da poesia às fotografias, dos emails às notícias. Jornais do mundo inteiro. Sem rigor, sem objectivo, sem nexo que não seja o despertar sucessivo da curiosidade. As doenças têm um lado de certo modo encantador: conferem-nos uma dose de inimputabilidade saborosa.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
CENTÉSIMAS-OITAVAS
É quando nos tornamos más companhias que temos a certeza de quem são os nossos amigos.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
CENTÉSIMAS-SÉTIMAS
Alimento de hoje (2): doces St. Dalfour. Tem de morango, framboesa, mirtilo, amora, figo, alperce.
(Foto)
domingo, 15 de fevereiro de 2009
CENTÉSIMAS-SEXTAS
Eu sei. Quase um mês. Muitas palavras ouvi e disse desde então. Muitas não disse e não ouvi. Refugio-me aqui:
"Uma constitucional perturbação da vontade e uma ânsia, paralelamente paralisante, de sobre tudo dizer tudo, sem falha, falta ou fraqueza, fazem com que eu ponha em tudo o que faço uma demora que acaba por me apavorar até à acção, e que comece essa acção por um pedido de desculpas de tanto ter demorada."
Excerto de carta de Fernando Pessoa a Jaime Cortesão, in " Obra Essencial de Fernando Pessoa, Cartas".
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
domingo, 18 de janeiro de 2009
CENTÉSIMAS-QUARTAS
Alimento de hoje (1): queijo fresco, produzido pelos Lacticínios Santos Costa, Lda., Serra de Santo António, 2380-608, Tel: 249845425 F: 249845144. Página web: não disponível ou em actualização. E-mail: não disponível ou em actualização. Tem uma enorme vantagem: este queijo fresco não é pre-embalado naquelas horríveis embalagens de vácuo que transformam o belo queijo fresco numa espécie de pasta de vidraceiro com sabor a sabão.
(Tirada daqui)
CENTÉSIMAS-SEGUNDAS
Abandonei-me ao Inverno, ao ar quente dos aquecimentos, às visões sombrias do cinzento dos céus. Leio, leio, leio compulsivamente. Escrevo, escrevo, escrevo compulsivamente. Quero saber de tudo. Das histórias do sexo na Casa Branca aos middle-aged que estão a passar fome com cartão Visa sem plafond no bolso por causa da crise que um tal ministro pequenino de apelido Pinho garantiu há uns meses que tinha passado e que um tal Sócrates disse que estávamos melhor preparados que os outros para receber. É a vida que sinto num tropel. Por isso tenho de refugiar-me frequentemente na música, na poesia, até na singela contemplação platónica do tal inverno. E basto-me, por ora, nisso. E que bom que, por enquanto, baste refugiar-me nisso.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
CENTÉSIMAS-PRIMEIRAS
A minha morte, não ta dou.
De resto, tiveste tudo
De resto, tiveste tudo
- a flor, a sesta, o lusco-fusco,
A inquietação do dia 8,
As órbitas das mães, das mãos,
Das curiosas palavras de não dizer nadinha.
Tudo tiveste: estás contente?
Feliz assim por teres tudo o que sou?
Feliz por perderes tudo o que sei?
Só não te dou o que não serei.
Não, a minha morte, não ta dou.
Pedro Tamen
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
CENTÉSIMAS
Preferi uma brutalidade para assinalar um marco deste blogue: as centésimas palavras ermas. E a brutalidade é esta: quantas relações sociais, familiares e pessoais pereceriam se apenas falássemos a verdade do que pensamos e sentimos? Ou, dito de outro modo: quantas sobreviveriam? Quantas?
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
NONAGÉSIMAS-NONAS
Precisamos de Caeiro, cara Júlia. Precisamos de sentir a ilusão do poder de poder recomeçar livremente todos os dias. Essa sensação de poder dá-nos importância, muito mais do que a que temos, dá-nos auto-estima, de que necessitamos para viver, dá-nos liberdade, muito mais do que a que sabemos usar. A ideia de que em cada dia ao acordar podemos tudo é deslumbrante. É falsa, mas deslumbrante e necessária. Alguém disse que o “Alberto Caeiro parece mais um homem culto que pretende despir-se da farda pesada da cultura acumulada ao longo dos séculos.” E por isso se refugiava na Natureza. Há lá coisa que transporte mais memória, mais cicatrizes do passado, mais sinais do que já foi do que a Natureza? Era a ilusão, essa ilusão tão necessária e tão mestra como Caeiro foi "o mestre" de Campos e Reis.
domingo, 11 de janeiro de 2009
NONAGÉSIMAS-OITAVAS
Abate-se o crepúsculo sobre a cidade. O frio aumenta sensivelmente. O céu nubla o horizonte, devagar, como um anúncio suave. Vêm dias duros pela frente. Em que as palavras são mais difíceis de tão ermas. Às vezes nêm se sonorizam nem escrevinham, de tão longínquias. Como o Sol nestes dias de invernia poderosa.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
NONAGÉSIMAS-SÉTIMAS
Escuto as traseiras pela noite dentro. Um clássico em triângulo, com um ligeiro pátio no meio ocupado por automóveis. Cedo as luzes se apagam. Na província as pessoas deitam-se mais cedo certamente. E eu escuto o silêncio das traseiras. Penso na Janela Indiscreta e na impossibilidade de surpreender um segredo que seja com ou sem binóculo naquelas traseiras apáticas parecendo sem vida dentro. Já me via ali sentado, imóvel e quedo, noite fora, à espera de não sei o quê, mas com a recompensa de ver alguma coisa. Nós gostamos de ver alguma coisa. Não se minta. Mas é uma ilusão aquele aparente vazio. Há vida dentro e há segredos dentro da vida. Há sempre. Mas na província há mais cuidado com a menos gente e correm-se as cortinas.
domingo, 4 de janeiro de 2009
NONAGÉSIMAS-SEXTAS
Fumo, vagarosamente, um cigarro. Saboreio cada segundo de vida. Delicio-me. Enquanto leio blogues. Uma forma de felicidade como qualquer outra. Faz hoje 17 anos que sucedeu um acontecimento importante na minha vida. Todos os dias são bons para balanços. Faço hoje o meu, de tantos que faço. Sim, sou um bocado agarrado a datas e aos simbolismos que introduziram na minha vida. Como me acontece com os objectos. Por exemplo, guardo ainda e uso a tesoura que os meus pais me compraram quando entrei para o ciclo preparatório. E guardo outras coisas. O mais importante, porém, é o que guardo na minha alma. E guardo nela todos os momentos que vivi. Dizia alguém que cultura é aquilo que nos resta depois de termos esquecido tudo o que aprendemos. Eu digo que nós somos o que lembramos de tudo o que não esquecemos ao viver. Onde é que eu ia?...
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
NONAGÉSIMAS-QUINTAS
Existem várias pequenas atitudes que mostram a educação que se tem ou não se tem. Eu até sou um bocado avesso à chamada etiqueta, mas reconheço que há pequenas coisas que têm o condão de me irritar. Exemplo: não me darem o troco de um pagamento na mão. No meu bairro há uma leitaria onde só entro quando as demais estão todas fechadas. E porquê? Além da parca higiene que transpira de tudo o que existe dentro da loja, a começar pelos donos, o costume é justamente atirar a infinita quantidade de moedas de troco de qualquer nota com estrondo no balcão. A mão fica estendida, ao lado das moedas já espalhadas à espera que alguém as apanhe.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
NONAGÉSIMAS-TERCEIRAS
PORTAS
Mesmo com a fachada florida,
encerro a porta e roubo-lhe o batente
para que ninguém me toque.
Fecho-me na cave de mim e aguardo
a trovoada em que me desabosem mais pétalas do que quer que seja
fico assim confinada
a dedilhar-me de mansinho arrumando a gaveta
que em mim trago.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
NONAGÉSIMAS-SEGUNDAS
Há um tipo de pessoas que me irrita solenemente. São aquelas pessoas que falam compulsivamente, a uma velocidade superior à da luz. Parece que o mundo vai acabar no segundo exacto em que elas se calarem e em que a torrente cessar. Como se falar fosse a alquimia para manter a vida acesa. Não deixam ninguém falar. Logo que que o interlocutor balbucia duas palavras a mais, ei-las a saltitar de assunto à mesmíssima velocidade com que falaram do anterior. Quando essas pessoas se vão embora um descanso desce, prazenteiramente, sobre a minha cabeça.
domingo, 21 de dezembro de 2008
NONAGÉSIMAS-PRIMEIRAS
É do Porto e usou a Tvtel o vistante 1.000 do Palavras Ermas. Mil visitas. Para ler estas palavras com que aqui vou registando o labirinto por onde passeio. Eu só agradeço este desrespeito pela ermitude, esta companhia que me fazem, mesmo quando estou na ilha apenas olhando em redor para a água que me cerca, ou para cima, para a que me molha.
sábado, 20 de dezembro de 2008
NONAGÉSIMAS
LADAÍNHA DOS PÓSTUMOS NATAIS
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
e que não viva ninguém meu conhecido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito.
David Mourão Ferreira
Tirei este lindíssimo poema d' O Privilégio das Caminhos.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
e que não viva ninguém meu conhecido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido.
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito.
David Mourão Ferreira
Tirei este lindíssimo poema d' O Privilégio das Caminhos.
(Abeto)
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
OCTOGÉSIMAS-NONAS
O bem estar emocional mede-se, entre muitas coisas possíveis, por esta: a capacidade de apreciar a noite e, antes disso, a necesssidade de poder apreciar a noite. Voltou-me. Por uns dias. Aproveito.
(Foto)
sábado, 13 de dezembro de 2008
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
OCTOGÉSIMAS-SÉTIMAS
Cada lugar tem uma noite única. Com o seu cheiro, a sua cor escura, o seu eco. Cada noite é uma inspiração diferente, um afecto diverso, uma temperatura diferente. Cada inspiração transporta-me para pensamentos especiais, sentimentos únicos, climas interiores irrepetíveis. Ouvir a noite é essencial à natureza humana. Falar com ela.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
OCTOGÉSIMAS-SEXTAS
Lágrimas ocultas
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
domingo, 7 de dezembro de 2008
OCTOGÉSIMAS-QUINTAS
São cinco da tarde. Cai a noite. Acendem-se as luzes em casa e nas ruas. Algumas são luzes de Natal. Só algumas. asoutras são as luzes de todos os dias e de todas as noites que passam e voltam. Passam e voltam sempre. Mecanicamente. Faz medo, esta mecânica. Pela impotência de a mudar.
sábado, 6 de dezembro de 2008
OCTOGÉSIMAS-QUARTAS
Reparei que um blogue que muito aprecio, um verdadeiro diário de poeta, escrito apenas em poesia, fez quatro anos de vida. Parabéns ao seu autor, blogger maior, Torquato da Luz de seu nome, que com o seu diário consegue tornar menos difícieis os dias de viver e alimentar o sonho de poetar que há em cada um de nós. Deixo-vos esta, que tem particularmente a ver com o meu momento. Como se fosse o Poeta a escrevinhar o meu próprio diário de poesia.
Quando se quebra o encanto e não há nada
mais a fazer que suportar a dor,
quando a noite não traz a madrugada
e o mundo se acinzenta e perde a cor,
quando parece ser o fim da estrada
e qualquer coisa diz que a caminhada
poderia ter tido outro sabor,
é mais que tempo de saltar o muro
é mais que tempo de saltar o muro
e retomar a busca do futuro.
OCTOGÉSIMAS-TERCEIRAS
Já um dia me disseram que sou poeta por dentro. Eu nunca tive jeito para uma estrofe de bairro ou de fotonovela, como as que antigamente, no tempo em que havia o primeiro e o segundo canal da RTP e era um pau, as donas de casa liam avidamente as revistas de fotonovelas. De vez em quando consigo expressar o meu estado emocional com uma frase especial e é tudo. Por isso só tenho de agradecer à amiga Júlia não só a persistência dos comentários como a adjectivação que neles faz do que aqui vou deixando pingar nos intervalos da dureza da vida. Faz-me sentir o que não sou e, bem, concedo, isso, como as "árvores com folhas de arco-íris", também me ilumina por dentro. A Júlia não me conhece, nem eu a ela, nem sabe por que estou a passar. Por isso o que escreve tem tanto valor para mim. O conhecimento tira autenticidade às palavras. Das outras, dessas palavras sem rede, como o trapézio arriscado dos circos que me encantavam em criança no velhinho Coliseu dos Recreios e sempre no dia de Natal, onde a minha avó Irene me levava, é que devemos guardar como pedras preciosas no sangue que nos corre nas veias para irrigar o "sinto, logo existo". Obrigado, Júlia. O seu caminho tem sido uma dádiva para mim. E um privilégio também.
OCTOGÉSIMAS-SEGUNDAS
De novo em frente da janela por onde avisto o mundo. Vejo, por entre o maciço nevoeiro as formas que se movimentam em vida. Luzes esquivas ao fundo denunciam o Natal antecipado. Árvores com folhas de arco-iris é que me iluminam por dentro. Mais as palavras que se soltam no tropel da imaginação. (Fotografia)
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
OCTOGÉSIMAS-PRIMEIRAS
sábado, 22 de novembro de 2008
OCTOGÉSIMAS
Uma pessoa doente sente que o seu problema é importante para os outros quando os outros dão prioridade ao seu problema antes mesmo de a darem aos seus próprios problemas.
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