terça-feira, 16 de setembro de 2008

VIGÉSIMAS-QUINTAS


Sempre tive uma relação complexa com o Magoito. Dividia-me entre a fealdade de certos lugares e a estrondosa magnitude do mar e das escarpas e da espuma gasosa das ondas que batiam nas rochas, a pairar sobre tudo. Depois achava que o lugar, pelas terreolas fora, sem passado, sem traço, sem diferença, sem chama, eram depressivas e desinteressantes. Perto, em Fontanelas, Vergílio Ferreira era capaz de escrever do melhor que tenho lido vida fora. E eu pensava: "Que diacho de coisa! E a mim qu'isto para aqui não me diz nada." Hoje, penso que talvez fosse a simplicidade brutal do sítio que me desenquadrava dele. É muito difícil perceber, falar, viver na simplicidade. Muito menos aos quinze anos. Mas agora sabia-me bem sentir a brutalidade daquele mar, sentado cá em cima ao pé da pequena fortaleza que parece Finisterra. Só eu e o mar vasto à minha frente. Hoje precisava dessa dimensão da pequenez.


(Tirei a fotografia daqui)

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